PSORÍASE
A psoríase é uma doença crônica de evolução variável, caracterizada por lesões cutâneas eritêmato-escamosas, consequente à alterações inflamatórias e proliferativas da pele. Apresenta distribuição universal na população e predisposição genética, muito embora seja uma doença multifatorial.
É característico da psoríase um aumento da proliferação dos queratinócitos, principais células da epiderme, o que gera lesões com importante espessamento e descamação.
Vários fatores são conhecidos como desencadeadores ou exacerbadores da psoríase, dentre os quais merecem menção: trauma cutâneo, infecções (sobretudo por estreptococo beta-hemolítico, devido sua relação com psoríase gutata, e o HIV), medicações (antiinflamatórios não hormonais, lítio, beta-bloqueadores, etc.), estresse emocional, fatores endócrinos, metabólicos, uso abusivo de álcool e fumo.
A diferença na apresentação das lesões determina alguma a classificação da patologia em subtipos principais:
Psoríase em placas (psoríase vulgar): É a forma mais comum. Caracteriza-se por placas eritêmato-escamosas, simétricas, de limites precisos, ocasionalmente cercada por halo periférico claro (halo de Woronoff). Localizam-se preferentemente na face extensora dos membros, particularmente joelhos e cotovelos, couro cabeludo e região sacra. Ocasionalmente as mucosas podem estar envolvidas. Em geral as lesões são assintomáticas, porém alguns pacientes referem prurido ou queimor. A curetagem metódica de Brocq fornece dados importantes. Inicialmente destacam-se escamas semelhantes as encontradas na raspagem de uma vela (sinal da vela); continuando-se a raspagem encontra-se uma superfície vermelha com pontos hemorrágicos (sinal do orvalho sangrento de Auspitz).
Psoríase em gotas (guttata): Apresenta-se com pequenas pápulas eritêmato-descamativas de surgimento agudo com preferência pelo tronco. Predomina em crianças e adultos jovens, surgindo freqüentemente após infecção estreptocócica.
Psoríase eritrodérmica: A eritrodermia pode surgir no curso evolutivo da doença, sendo geralmente precipitada por tratamentos intempestivos, administração e posterior interrupção de corticóide, infecções ou hipocalcemia. Praticamente toda a pele encontra-se comprometida, podendo ocorrer alterações na termorregulação, na hemodinâmica, no equilíbrio hidrossalino e proteico. A psoríase é responsável por até 37,8% das eritrodermias.
Psoríase pustulosa: Caracteriza-se pela presença de pústulas estéreis. Na forma localizada as lesões estão confinadas às palmas e plantas e tendem à cronicidade. Compreende a pustulose palmo-plantar (PPP) e a acrodermatite contínua de Hallopeau. Nas mãos, a eminência tenar é o local mais comum. Nos pés, predomina no cavum e borda lateral.
A acrodermatite contínua é freqüentemente precipitada por traumatismos ou infecções. A erupção pustulosa afeta inicialmente as extremidade dos dedos das mãos ou pés. Na forma generalizada (psoríase de Von Zumbusch),o curso é agudo ou subagudo com envolvimento de todo tegumento. Pode surgir em paciente com psoríase vulgar, sendo precipitada por drogas (salicilatos, lítio, progesterona e corticóides), infecções, hipocalcemia ou gestação. Geralmente há repercussão sistêmica importante.
Psoríase artropática: Inicialmente é monoarticular ou oligoarticular, assimétrica e insidiosa, tornando-se posteriormente poliarticular. Predomina nas articulaçães interfalangeanas, mas pode envolver a coxo-femural, sacroilíaca e cervical. É possível que fatores ambientais como traumas, e alterações hormonais do pós-parto e menopausa possam induzir à artrite psoriásica, em pacientes geneticamente predispostos. As alterações radiológicas são variadas, com osteoporose discreta ou destruição óssea severa e aumento do espaço articular. A prevalência de artrite psoriática na população varia de 0,02 a 0,1% e a incidência de poliartrite em psoriáticos hospitalizados foi de 6,8%.
Psoríase ungueal: O envolvimento ungueal está presente em 25-50% dos casos. Pode preceder as lesões cutâneas por vários anos. É freqüente sua associação com artropatia psoriásica. Depressões cupuliformes (unhas em dedal) é a alteração mais comum que juntamente com as estrias longitudinais refletem a psoríase na matriz ungueal. Hiperceratose subungueal, onicólise e hemorragias são atribuidas à doença no leito ungueal ou hiponíquio. É freqüente a contaminção fúngica, especialmente pela Candida, uma vez que a unha lesada se torna um alvo mais fácil.
Psoríase invertida: Assim denominada quando as lesões apresentam localização flexural: regiões inguinais, axilares, inframamárias e interglútea. Em decorrência da maior umidade e maceração nestes locais, as escamas geralmente estão diminuídas ou ausentes dificultando o diagnóstico. Observa-se maior incidência desta forma em pacientes HIV positivos.
Outras variantes:
Seboríase – as lesões envolvem couro cabeludo, sobrancelhas, dorso e regiões retroauriculares. Observam-se achados da dermatite seborreica e da psoríase onde ambas as doenças podem se alternar no curso evolutivo.
Tratamento: Não sendo ainda possível a cura, o tratamento tem como objetivo controlar a doença, orientar o paciente e oferecer apoio psicológico sempre que necessário. A escolha da modalidade terapêutica depende da severidade, extensão e localização das lesões, assim como da idade, sexo, profissão, perfil psicológico e condições gerais do paciente. Nas lesões localizadas opta-se pelo tratamento tópico com derivados do coaltar, análogos da vitamina D (calcitriol), corticoides, etc. Nos quadros moderados ou graves, há em geral a demanda para terapia sistêmica com imunossupressores ou fototerapia, dentre os mais comuns o metotretxato, acitretina, ciclosporina, corticoides sistêmicos, PUVA-terapia, etc.